quarta-feira, 15 de maio de 2024

1937- Viação Cometa S.A






 A Viação Cometa S/A é uma empresa de ônibus rodoviários do Brasil. Por décadas, operou linhas na região sudeste do Brasil, baseada num modelo norte-americano, inspirando-se na empresa Greyhound Lines. Os ônibus eram construídos em carrocerias de duralumínio e operava com sistemas de radio-comunicação entre suas bases e pontos de apoio numa época em que as comunicações eram complicadas e ainda engatinhavam no Brasil. É uma das pioneiras nas interligações na região sudeste, e uma das mais antigas na ligação do sudeste (mais especificamente São Paulo) com o primeiro estado do sul do país (Paraná).

Suas linhas estão baseadas de São Paulo para o interior e litoral do mesmo estado, além de linhas interestaduais para o Paraná, como já citado, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A linha mais tradicional, São Paulo-Rio de Janeiro, operada desde 1951, foi transferida em 2002 para a Expresso do Sul, uma empresa semi-coligada do novo grupo controlador da Cometa: Grupo JCA. A aquisição começou em dezembro de 2001 e custou 155 milhões de reais, além de mudanças nas linhas, resultou numa mudança total na imagem da companhia, onde foram modificados desde os escritórios administrativos da empresa, programação visual incluindo toda a frota, materiais impressos e uniformes, até a logotipia, que passou a contar com novas cores mais vivas, nova grafia do nome COMETA e a foto do Cometa Hale Bopp. 

O grupo não comprou a fábrica de carrocerias que pertencia ao antigo controlador da companhia, a CMA (Cia. Manufatureira Auxiliar), cuja produção foi descontinuada em 2002.


História

Antecedentes e fundação da empresa

Nos seus primórdios, a Cometa realizava viagens ligando a cidade de São Paulo a Santos, no litoral. A história da Viação Cometa começa em 1937. O aviador italiano Comendador Tito Mascioli decidiu morar no Brasil, em São Paulo, no bairro Jardim América, definitivamente após chegar ao país pela primeira vez tripulando uma esquadrilha composta por 14 aviões 


Savoia-Marchetti S.55 da Aeronáutica Italiana
, o Dr. Arthur Brandi, um agrimensor que viria a ser cunhado do Major Tito, estava realizando um loteamento na região do Jabaquara, mas enfrentava dificuldades para vender os terrenos, pois este era um bairro longínquo e não havia transporte para o centro de São Paulo. Para alavancar as vendas, a única solução viável era criar e operar uma linha de ônibus, que ligasse o Jabaquara e a Praça da Sé. E quem assumiu esse desafio foi Tito Mascioli.

Na época, o sistema de concessões de ônibus urbanos funcionava mais ou menos como o atual regime de táxi. Então, foram compradas seis licenças e com elas nasceu uma empresa de ônibus urbano, a Auto Viação Jabaquara S.A.

Empreendedor, Tito Mascioli logo percebeu que havia um grande futuro no ramo de transporte de passageiros e passou a dar grande atenção ao setor. Em pouco tempo, a Auto Viação Jabaquara S.A. tornou-se a maior empresa de ônibus urbano de São Paulo, controlando 40% do transporte coletivo do município, com exemplar qualidade nos serviços prestados.

Os negócios iam bem, tanto no ramo imobiliário, quanto no de transportes, mas em 09 de março de 1947, com a criação da C.M.T.C. (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), a Auto Viação Jabaquara S.A. foi encampada. Tito Mascioli chegou a ocupar o cargo de Diretor Tesoureiro da C.M.T.C. por um curto período, mas nem assim conseguiu receber qualquer indenização.

Contudo, Tito Mascioli já estava fascinado por trabalhar com transporte de passageiros e ainda em 1947 adquiriu uma empresa de ônibus existente desde 1943, a Empresa Auto Viação São Paulo-Santos Ltda., e em 7 de maio de 1948, o nome da companhia foi mudado para VIAÇÃO COMETA S/A, inspirados no logotipo da Auto Viação São Paulo - Santos Ltda., um Cometa em forma de estrela cadente.  O nome Viação Cometa surgiu em função do desenho que já existia na lateral dos ônibus da Empresa Auto Viação São Paulo-Santos Ltda. A empresa começa a adquirir outras companhias de ônibus para ampliar seus serviços. A partir da década de 1950 a empresa tem grande expansão, com novas aquisições de companhias menores e novas linhas, como “São Paulo – Jundiaí”, “São Paulo – Sorocaba” e “São Paulo – Campinas”. 

Em 1950, iniciava atuação no transporte coletivo da cidade de Campinas, estado de São Paulo, operando sob seu próprio nome - Viação Cometa S/A, e a partir de 1956, com a aquisição das linhas da Viação Lira, através da subsidiária Companhia Campineira de Transporte Coletivo (CCTC). A empresa teve atuação nas principais linhas da cidade, sendo inclusive a encerrante da operação dos bondes na metrópole do interior paulista. Deixou as operações em Campinas em 1988, com média de 1200 funcionários, e suas linhas foram divididas, após concorrência pública, entre VCG - Viação Campos Gerais, TUCA - Transportes Urbanos Campinas, e VBTU - Viação Bonavita de Transporte Urbano. Em dezembro de 1951 inicia sua história nas viagens interestaduais pouco depois da inauguração da rodovia Presidente Dutra, com a estreia da linha “São Paulo – Rio de Janeiro”.

 A entrada de outras empresas nas linhas entre São Paulo e Rio de Janeiro força a empresa a ampliar a frota para enfrentar bem a concorrência. É neste período que a empresa compra da General Motors, nos Estados Unidos, 30 ônibus modelo PD-4104, bastante modernos para a sua época com carroceria em alumínio, suspensão a ar, ar condicionado e o forte motor Detroit-Diesel 6-71 de 211 cavalos.

Nesta mesma década a Cometa adquire a empresa de ônibus urbano de Campinas, Viação Lira. Da junção dessa empresa com outra do grupo surge a também famosa CCTC (Companhia Campineira de Transporte Coletivo).

Inspiração para as cores dos ônibus


Devido ao desenho de um cometa que já fazia parte da pintura da Viação São Paulo-Santos, sugerindo rapidez no transporte, e também pelo fato de a empresa já não mais fazer apenas a linha entre a Capital Paulista e o litoral do Estado, Mascioli decidiu mudar o nome da empresa para Viação Cometa. O curioso é que a cor padrão da empresa, azul e bege, foram inspiradas por Mascioli num jogo de porcelana no qual ele e a esposa tomavam os chás da tarde na Europa. Desde a Viação Jabaquara, o italiano dizia que os ônibus dele teriam a mesma cor do jogo de chá, em agrado à esposa que tinha gostado das cores do jogo. 
Já o uniforme era similar ao da Aeronáutica (com pouca diferença nas cores), devido ao passado de Mascioli como "Aviador".

A ERA SCANIA


Na década de 1960, especificamente em 1964, surge o famoso ônibus Papo Amarelo que era montado pela Ciferal sobre chassi Scania B-75. Era o início da famosa parceria Cometa-Scania que marcaria a trajetória da empresa por praticamente meio século. Foi neste período que diversos ônibus marcantes da companhia paulistana surgiram, como o Flecha de Prata e Flecha Azul, hoje alvos da cobiça de colecionadores por todo o país.


 Nesta era da parceria com a Scania a empresa também adquiriu veículos de outros fabricantes, sendo o mais lembrado o famoso monobloco O-326 HL da Mercedes Benz, além de modelos sucessores como o O-355.


Os ônibus com carroceria em alumínio foram tomando conta da frota, especialmente na década de 1970. Já na década seguinte todos os ônibus da Viação Cometa eram de alumínio, uma característica marcante da empresa e que até hoje é lembrada por pessoas que viveram aquele período.

OS ANOS 1980 EM DIANTE

Os anos 1980 marcam mudanças nas operações da Cometa. É neste momento que a empresa decide parar com longas distâncias e atuar apenas em linhas dentro de um raio de 600 quilômetros. A medida serve para melhorar a relação custo-benefício, contudo a linha “Curitiba – Belo Horizonte” fica como exceção por ser muito lucrativa e passa a ser operada com parceria da Impala Auto-Ônibus.

Em 1983 e 1988 a empresa encerra suas operações urbanas (coletivos) respectivamente nas cidades de Ribeirão Preto, onde atuava com o nome Viação Cometa e em Campinas onde mantinha o nome CCTC.





 Já no século 21, precisamente em 2001, a empresa tem mudanças sua administração. Um dos herdeiros de Tito Mascioli sai da sociedade, abrindo assim o caminho para que a Viação Cometa fosse adquirida pelo Grupo JCA, controlador de outras grandes empresas como Catarinense, Rápido Ribeirão Preto, Expresso do Sul, 1001 entre tantas outras. JCA são as iniciais do fundador do grupo, o itaboraiense Jelson da Costa Antunes (*9/11/1927 +31/7/2006).

A entrada do Grupo JCA na vida empresarial da Viação Cometa foi fundamental para uma renovação na empresa paulista, que modernizou-se e passou a contar com investimentos do grupo controlador. Atualmente a Viação Cometa possui linhas para seis Estados do Brasil e também para o vizinho Paraguai.

A CMA

Com as carrocerias dos ônibus da Viação Cometa sendo produzidos pela hoje extinta Ciferal a empresa se viu em maus lençóis na década de 1980 quando a fabricante de carrocerias entrou em crise financeira, cujo início foi o cancelamento da aquisição de cerca de 2000 ônibus elétricos por parte da CMTC.

Antes do baque do cancelamento da CMTC a Ciferal já vinha deixando de produzir carrocerias Dinossauro para Cometa. Isso levou a viação paulistana a tomar uma decisão ousada de criar uma encarroçadora própria, a CMA (Companhia Manufatureira Auxiliar). Para montar os ônibus customizados da Cometa a empresa levou diversos profissionais da Ciferal para trabalhar.

 A CMA foi importantíssima para a Cometa pois além de produzir as próprias carrocerias para a viação paulistana, produzia também peças de reposição para ônibus de outras companhias. A encarroçadora encerrou suas atividades em 2009.

EMPRESA CONTA COM MEMORIAL

Uma empresa com tanta história não poderia deixar de contá-la ao público. E foi pensando nisso que a Viação Cometa inaugurou, em 2009, o Centro de Memória Ivan Comodaro, onde estão expostas inúmeras imagens, objetos e memorabilia que marcaram sua trajetória.

Entre as peculiaridades do centro de memória destaco a antiga sala da presidência, preservada em seus mínimos detalhes. Um ônibus Flecha Azul absolutamente preservado e totalmente funcional também faz parte do acervo ficando guardado na garagem da empresa e sendo exibido em eventos e ocasiões especiais.

O museu foi palco de uma reportagem deste mesmo autor para o jornal Folha de S.Paulo. Infelizmente o espaço ainda não é aberto ao público.
















 

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